Para criar valor, é preciso respeitar a própria cultura, mas essa não é uma estratégia para qualquer um. É só para quem tem uma história de honra e de lutas. Para “vender” a cultura tem que ter um passado glorioso.
O comercial da Volvo não foi feito pra você ficar pra baixo. Não foi feito pra você se sentir um item em série. O comercial da Volvo é para feras, para quem tem sangue no olho, faca nos dentes. O comercial é estrelado por Zlatan Ibrahimovic, grande astro sueco, jogador do Paris Saint Germain , da França. Ele também pratica lutas marciais, e de vez em quando protagoniza alguns lances acrobáticos nas partidas, com gols que figuram entre os mais bonitos do ano.
A Volvo é uma empresa Sueca, e o comercial foi para ressaltar não apenas o modelo do carro em questão, que aparece no comercial ‘deslizando’ sobre o gelo: XC70. O que se vê no vídeo é a valorização da cultura Sueca, com as peculiaridades do país nórdico, como as montanhas frias, e um texto de fundo que exalta mais que uma marca: exalta o povo sueco.
A Suécia tem indicadores a seu favor, na área de educação, economia, desenvolvimento tecnológico, e fez um ‘discurso’ protegendo seu patrimônio: sua cultura. Segue abaixo:
You old, you free, you high mountained north
You silent, you sweet and beautiful
I salute you, fairest land upon earth
Your sun, your sky, your meadows green
You throne upon memories of great olden days
When honored your name traveled the earth
I know that you are and you will be as you were
I want to live
I want to die
In Sweden
A campanha se chama Made By Sweden, ou seja, fabricado na Suécia, feito na Suécia, e glorifica a terra livre, a terra antiga, doce e bela. Fala do céu, do sol, de nome honrado e de uma terra justa. O que se pode aprender com essa propaganda é a valorização da cultura, seja de uma empresa, do fundador de uma companhia, da história de um produto, entre outros. Eles “venderam” a cultura. Disseram quem são eles. E eles realmente não são qualquer um.
Gestores precisam contar a história da companhia para seus supervisores, engenheiros, para que eles valorizem cada espaço da companhia, e lembrem-se disso quando forem criar metas, alterarem produtos. Diretores e fundadores precisam contar sua história e sua cultura para publicitários, para que eles possam passar um rico testemunho de uma companhia de sucesso. Vendedores precisam saber passar o que a empresa representa, as peculiaridades que ela já enfrentou, e como inovou e se comportou diante de crises mundiais, cataclismos financeiros, inovações tecnológicas, enfim, problemas mundiais.
O protagonista corre pelo gelo, escala a montanha, caça um cervo, se joga numa água gelada, mas cuida do filho e protege a esposa. Ele se supera, sua face é de guerreiro que não foge à luta, que está pronto para o combate. Seus filhos brincam, sua mulher é linda, o clima é doce. Seu olhar está preparando o ataque: esse é o Ibrahimovic do comercial.
A nossa vida não é diferente: tentamos fazê-la doce, enquanto guerreamos com nossos medos e frustrações. Enfrentamos o gelo social, a tempestade econômica e sempre encontramos forças para enfrentar os dissabores da vida. O comercial é uma metáfora da vida, mas que tem a grande mensagem: o jeito sueco dá certo; o jeito sueco é vencedor; o jeito sueco é exemplar.
E, como “coadjuvante” dessa história, está aquele carro passeando como um rei entre aquelas montanhas. Um carro com cara de bravo, que participa da vida do Ibrahimovic, que enfrenta o frio como ele, que escala a montanha como ele. O carro é Volvo. Não é mais um carro. Sou eu, você nós, refletidos no espelho. Ele ganhou a nossa personalidade, e já faz parte da história.
Made By Sweden: não é feito em qualquer lugar. Não é feito por qualquer um.
A marca termina o comercial inserindo a frase que dá o título à campanha: Made By Sweden, e o nome da marca. Ou seja, em outras palavras: feito por quem sabe, por quem entende, por quem vence. Feito por quem se preocupa, por quem encara desafios, por quem não abaixa a cabeça. No final, o locutor com uma voz que faz refletir, diz: I want to live, I want to die, in Sweden. Essa ideia é fantástica. É um exemplo para qualquer um, não apenas vendedores, gestores, administradores, publicitários. A tradução é: eu quero viver, eu quero morrer na Suécia. O esposo quer a esposa para o resto da vida e vai amará-la? O diretor quer o empregado que traz resultados para muito tempo e vai algemá-lo na mesa? Já se foi o tempo da escravidão, da obrigação. O que se precisa fazer é criar condições para que o funcionário fique. O esposo precisa semear o amor diante da esposa diariamente se quiser que o relacionamento se mantenha com a mesma cumplicidade.
E as empresas? Querem fidelizar o cliente. Quem que ele compre mais uma vez, querem que ele compre sempre. Será que o cliente quer viver pela sua empresa e morrer pela sua empresa, pelo seu refrigerante, pela sua água, pelo seu carro, enfim, pelo seu produto e/ou serviço? Quer que o colaborador vista a camisa e defenda a empresa? Será através da valorização da própria cultura, que uma empresa criará alto valor agregado. Só que isso não é para poucos: é apenas para quem tem uma história honrada, doce, bela e livre. Como a Suécia. Perfeita? Não. Mas uma história de lutas, uma história honrada.
No final do comercial, Ibrahimovic está com o cervo na mira, e abaixa a arma. Respeitou a natureza. Mostrou valor. Inspirou em quem viu um estado de espírito superior: o de preservar vidas. E é o que a Volvo faz: preserva vidas. Seus carros estão entre os mais seguros do mundo.
Autor: Gerson Christianini