Ele não é a saída para momentos de desespero, leia-se, desemprego. Networking é para gerar valor para você e para as pessoas ao seu redor.
Passa o tempo, mas o termo networking nunca sai de moda. Sempre está em evidência pelos efeitos positivos que acarreta na vida profissional e pessoal. Busquei uma metáfora para esse conceito e não vi nada mais plausível do que associá-lo a estradas. Conceitualmente o termo significa rede de contatos. Net em inglês quer dizer rede, e working, trabalhando. Mas as traduções ao pé da letra muitas vezes não são corretas. Dessa forma, esse termo é mais usado no sentido dos contatos que temos na vida profissional. É uma interpretação de que o objetivo é fazer contatos e aumentar seu rol de amigos.
Você sempre vai precisar fazer uma viagem, e muitas vezes, há diversas estradas para chegar até o destino. Algumas são esburacadas, outras têm pedágios caros; com algumas se anda menos e com outras se vê mais trânsito. Enfim, há mais de uma forma de se chegar ao destino (salvo exceções), e elas têm em si um custo. Às vezes as estradas custam mais dinheiro; às vezes fazem o motorista gastar mais tempo; às vezes colocam em perigo a vida de quem está ao volante, e o custo se torna alto. Portanto, a pessoa costuma usar a rede de contatos para facilitar o caminho, reduzir o tempo de espera para crescer na carreira, ganhar mais dinheiro com “estradas” mais baratas. Ou seja: as pessoas tratam outras pessoas como recursos a fim de alavancar a vida profissional. Mas isso é válido? Será que Networking reflete o verdadeiro espírito de uma rede de pessoas com afinidades em comum? O Networking não foi criado nesse espírito, mas muitos trivializam seu uso.
De vez em quando se vê propagandas de faculdades que, ao elencar os benefícios da pós-graduação, MBA e/ou cursos de atualização oferecidos, enfatizam o Networking propiciado. Ou seja: é praticamente uma forma de dizer que você vai subir na carreira e melhorar de vida com os alunos que você vai conhecer. Não é errado uma instituição de ensino mencionar esse benefício, desde que em sala se propague a cultura de um Networking voltado às pessoas, e não apenas ao sucesso.
O ideal é não banalizar o uso do termo e nem o desfrute dessa rede de contatos. Pessoas não são mercadorias. É necessário cautela ao se relacionar e ‘pleitear’ algo a seus contatos. A lógica não pode ser conhecer pessoas para “ter” algo na vida, mas sim conhecer pessoas para “ser” algo na vida. O ter e o ser farão uma diferença grande na forma de criar essa rede de contatos.
A miopia que encontro se deve à escolha dessa rede. Ela não deve ser apenas do ramo profissional. Pensar assim é limitar e tornar pouco frutífero os relacionamentos. Construir uma rede de afinidades é a grande oportunidade para “melhorar” de vida. E “melhorar” está entre aspas porque representa não apenas uma melhora de um cargo, de uma remuneração, mas a melhora do estado de espírito e dos relacionamentos.
O elevador, a portaria, a quitanda, o assistente disso ou daquilo, devem ser vistos como uma oportunidade de trocar experiências enriquecedoras para o resto da vida. Atualmente as redes sociais são uma grande fonte para aumentar a lista de “conhecidos”. Porém, o fator mais importante ainda reside em ter contato, criar elos e trocar experiências. Distribuir convites de amizade no Linkedin e no Facebook, seguir todos no Instagram e passar seu whatsapp para qualquer um pode aumentar sua lista de contatos, mas pode não resultar em um Networking eficiente.
É bem verdade que algumas redes permitem “grupos direcionados”, separados por temas que facilitam uma troca de mensagens. Só que a troca de mensagens virtual ainda é fria; nada substitui o olho no olho, uma partida de tênis com um amigo; um churrasco com um conhecido. É mais tocante, mais efetivo. Torna o Networking não um instrumento para sua realização profissional, mas faz dessa teia de contatos uma realização para a vida; a sua e a de outros.
Permita-me o neologismo. Mas, por que não usar o termo “Netlife” ao invés de Networking em algumas ocasiões? Nunca ouvi o termo, nunca li em um livro, mas creio que representa bem o espírito do Networking. Sair por aí caçando pessoas do mesmo ramo, trocando cartões, e esperando receber indicações de vagas no mercado de trabalho não é a postura mais indicada. Porém, desenvolver uma teia de contatos com o objetivo de ter um rol de amigos de diversos tons, proporcionando opiniões diferentes, aprendizados pouco comuns, a ponto de enriquecer a cultura pessoal e melhorar a visão de mundo, é uma postura rica e traz ganhos extremamente valiosos. Networking não é uma saída para momentos de desespero, leia-se, desemprego. Networking é para gerar valor para você e para as pessoas ao seu redor. É para construir afinidades em situações de crise e de felicidade. É uma de suas conexões com o mundo.
Autor: Gerson Christianini