Quando a honestidade é o melhor cartão de visita.
Estive em Avaré no mês de Janeiro, e depois de uma manhã produtiva de trabalho, fui almoçar. Para minha desagradável surpresa, depois de sair do restaurante me deparei com o pneu do meu carro no chão. Literalmente no chão. Eu estava com pressa, compromisso agendado, e, obviamente, fiquei chateado com a cena. Peguei uma das principais ruas da cidade e me dirigi ao posto mais próximo. Perguntei sobre borracharias e me indicaram uma: “vira aqui, desce ali, e logo ali à direita”, disse o frentista simpático e preocupado com meu pneu. No posto não tinha uma borracharia e ele parou o que estava fazendo para me auxiliar.
Fiz o caminho traçado por ele e cheguei ao borracheiro indicado. Um senhor simpático me atendeu e fez o procedimento de praxe. Ergueu o carro, tirou os parafusos, pegou a roda e a levou para mergulhar na água. O que vou relatar pode parecer simples e banal para alguns, mas para mim foi uma clara referências de valores, de ética e de profissionalismo. Depois de alguns minutos ele voltou e disse que o pneu não estava furado. Apenas tinha amassado em alguns dos vários buracos que as ruas nos oferecem.
Quando ele me deu esse feedback eu agradeci, e já estava voltando para o carro, mas, antes de entrar, eu voltei a falar com ele. Comentei com ele que o serviço era barato, mas mesmo assim demonstrava um exemplo de caráter e profissionalismo. A honestidade dele em tempos de grave crise de ética é sim um exemplo a ser comentado. Merece esse artigo. Atualmente homens políticos, grandes empresários, referências no mundo artístico, que deveriam ser exemplos, não o são.
Creio que a sociedade está carente de boas referências. O serviço prestado pelo borracheiro, o conserto do pneu, seria barato. Eu não era de Avaré. Poderia nunca mais aparecer por ali. Ele poderia sim ter feito qualquer gambiarra, dado um jeitinho, o jeitinho brasileiro, e cobrado por algo que não precisava. Mas ele preferiu seguir o ‘caminho dos bons’.
Muitas empresas investem muito dinheiro em Marketing, contratam consultorias a preços de ouro, proporcionam boas condições para suas equipes de vendas, mas, o melhor cartão de visita ainda é a honestidade. Há muitas técnicas para fidelizar clientes. As empresas seguem a risca estratégias bem delineadas, que levam em consideração pesquisas sobre os hábitos dos consumidores, tempo de maturação e declínio do produto, mapeamento em longo prazo do uso do produto, mas, se esquecem de que o “diferencial” ainda é essencial: a integridade no planejar, no negociar, no vender e no cumprir as promessas. Diferencial está entre aspas porque, com a epidemia da desonestidade, muitas pessoas tratam pessoas éticas como alguém diferenciado. O que é um exemplo claro de quão perniciosa é a conjuntura atual.
Vejo vendedores com equipamentos de última geração e softwares inovadores que facilitam o trabalho e permitem o gerenciamento eficaz de toda a carteira de clientes. Mas, se na mochila, na pastinha, além de dispositivos inovadores, não estiverem presentes a integridade, é provável que muitos investimentos em Marketing não tenham o efeito esperado. Na borracharia não encontrei um cartaz com os dizeres: “somos éticos, honestos; podem confiar na gente”. Mas saí dali satisfeito não apenas com aquele estabelecimento. Saí dali satisfeito com a humanidade. Ainda há esperanças. O conserto do pneu era barato, mas o borracheiro vive disso. Se todos nós, que vivemos de nossas atividades profissionais, formos éticos em tudo, estaremos pavimentando um caminho melhor para as próximas gerações.
Autor: Gerson Christianini