O comercial da Honda é claro: com ela, você muda a paisagem – Fevereiro / 1997

O comercial da Honda é de 97, mas os argumentos centrais podem ser usados atualmente sem nenhum problema. Eu quero dividir esse comercial em 3 vertentes de convencimento: a primeira seria o de mexer com a esperança, de trabalhar o coração para coisas boas no futuro. O segundo seria o da acomodação, de vencer a rotina que nos aprisiona a cada dia. E, a terceira vertente, é aquela que é o despertar para curtir a vida, para ser livre e feliz.

O comercial mostra a moto Honda com os faróis iluminando uma tela, como se fosse de cinema. Ou seja: já vemos a moto sendo capaz de proporcionar um entretenimento digno de cinema. Mais ainda: mostra uma paisagem exuberante, que é concernente ao modelo da moto, próprio para desbravar o campo mostrado na tela.

O texto do comercial é instigante, é direto e persuasivo: “Um dia você vai ter uma cobertura e morrer de saudade do tempo que só tinha uma barraca”. Evidente que o texto é claro no que diz respeito a ter uma cobertura. O comercial não foi feito pra quem tem condições de comprar uma cobertura, porém, mexe com a esperança que reside na maioria esmagadora dos meros mortais, que é de galgar novas posições, melhorar de vida, ter condições de morar em uma casa ou apartamento mais amplo.

O comercial cita uma barraca. Essa palavra não foi colocada por acaso. Quem compra uma moto dessa não mora em uma barraca. Mas, na década de 90, como atualmente em alguns lugares, ainda é possível escutar uma pessoa dizer que mora num barraco. Não é difícil escutar: vou embora pro meu barraco; preciso trocar de barraco. Uma das lições da propaganda da Honda é se apropriar da cultura do consumidor. O linguajar não precisa ser idêntico, mas, usar palavras que são importantes e coerentes com a cultura do cliente, é importante para que ele se sinta ambientado com a reunião e/ou negociação.

Outrossim, o outro eixo convincente, é a forma de dizer que, se você não tem uma moto da Honda e não desbrava uma paisagem como a da foto, você está preso em casa, em uma vida monótona e cômoda. Ademais, explorando mais uma vertente de convencimento, a propaganda desperta o desejo  do ser humano  de ser feliz, de buscar a liberdade, de possuir o mundo.

O texto no rodapé é coerente com o propósito da primeira mensagem: “Chegou a nova XLR 125. Feita para durar na estrada e na memória. Motor traseiro pró-link; pneus de uso misto; câmbio de 5 marchas; defletor de monocilíndrico OHV – 4 tempos; suspensão ar frontal; farol com lâmpada halógena”. Além das especificações da moto, a Honda usa o poder de persuasão quando diz que a moto não vai apenas durar na estrada. Ela vai proporcionar momentos inesquecíveis.

Não vi um bom uso das cores de fundo no comercial da Honda, mas é louvável que ela fez uma “campanha” uma “chamada”, com direito ao que hoje se usa com hashtag, que seria de ir pra rua, pegar a moto, partir pra aventura, entre outras. Kotler e Keller no livro Administração de Marketing mencionam sobre as tendências a serem observadas por profissionais de Marketing, entre elas: retardamento da aposentadoria, maior grau de instrução, mudança da pirâmide etária, mudanças nas tendências de natalidade, enfim, aos fatores que precisam ser considerados quando as companhias fazem seu planejamento. Vou falar sobre modismos, tendências e megatendências nos próximos artigos.

Da mesma forma, em uma propaganda, tendências e modismos devem ser observados para que se crie um elo com o consumidor. No caso da propaganda da Honda, é importante salientar que década a década, no mundo todo, há um aumento da população que migra do campo para a cidade. E, ao fazer uma propaganda dessas hoje em dia, é importante verificar se há grupos que se aventuram pelas trilhas na natureza; qual faixa etária eles são e qual classe social eles pertencem; com qual frequência eles vão para a natureza como válvula de escape. Enfim, identificar quem usa a moto e para qual finalidade, para que a comunicação do emissor para o receptor seja eficaz.  Comunicação eficaz não é necessariamente a que usa palavras mais bonitas. É aquela que o receptor entende.

Autor: Gerson Christianini

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