Frases de efeito em reunião são fáceis; difícil é ter exemplos a oferecer.
Diz uma história que uma mãe, preocupada com o filho, o levou a Mahatma Gandhi, e pediu encarecidamente que ele orientasse seu filho a não comer muito açúcar, pois faz muito mal à saúde. Gandhi pensou um pouco e pediu que ela o levasse depois de duas semanas para falar com ele. Depois do período, a mãe voltou ansiosa com o filho e esperou Gandhi fazer o discurso conselheiro. O sábio olhou no fundo dos olhos do garoto e disse: “Filho, não coma muito açúcar; faz mal à saúde”.
A mulher estava agradecida, mas abismada. “Por que ele me fez esperar duas semanas para dar esse conselho, sendo que naquela outra oportunidade ele já poderia ter dito isso?”, pensou ela. Ao indagar Gandhi, ele falou: “Há duas semanas eu também estava comendo muito açúcar; não posso exigir do outro aquilo que eu mesmo não faço”.
A história é uma boa reflexão para várias áreas: para relacionamentos entre cônjuges, para relacionamentos com filhos, para grandes políticos diante do povo, para líderes militares ensinando o pelotão, para gestores em suas empresas etc. O exemplo de Gandhi evidencia o abismo entre o que se fala e o que se faz. É revelação sobre as contradições do ser humano.
“Trazer para a equipe funcionários alinhados à cultura e ao planejamento da companhia, é um dos grandes desafios do gestor atual.”
Outrossim, existe uma outra máxima que diz: “as palavras conduzem e os exemplos arrastam”. Olhando essa história a partir da ótica da gestão de pessoas, gerir pessoas é inspirar confiança, é promover o engajamento. Contratar funcionário é uma das atividades mais fáceis para o gestor. Conseguir alguém que trabalhe por dinheiro é muito simples. Porém, trazer para a equipe funcionários alinhados à cultura e ao planejamento da companhia, é um dos grandes desafios do gestor atual.
Para se gerar engajamento, além de outras ações, é de fundamental importância trazer exemplos. Frisando: bons exemplos. Os colaboradores vão se importar com os ensinamentos dados pelos diretores e com as palavras usadas. Irão levar em consideração. Porém, mais do que as frases de efeito soltas em reunião, será dada uma importância ainda maior para a forma como são conduzidos os processos dentro da empresa.
Esses processos podem ser: demora ao cadastrar um pedido, atraso na emissão de boletos, falta de controle dos estoques, desorganização com informações de cadastros dos clientes, entre outros.
De nada serve os gestores falarem em consideração com o cliente sendo que o frete sempre sai com atraso e custa mais porque a empresa não está localizada em um entroncamento logístico que facilite a retirada dos produtos. Também não há coerência os gestores cobrarem transparência com o cliente, sendo que eles mesmos não são demonstram isso nos produtos que lançam, nas pesquisas de satisfação que (não) fazem, nos atendimentos vagarosos que não mudam.
Em suma: se o filho é a cara do pai, a empresa tem a fisionomia do chefe. Quanto mais valor ele der ao relacionamento com o cliente, ao cumprimento das promessas feitas pelo departamento comercial, aos trâmites burocráticos entre os departamentos, à organização dos estoques, mais inspiração trará aos colaboradores. Às vezes, gestores, supervisores e diretores perdem muito tempo explicando, corrigindo e cobrando em vez de arregaçar as mangas e demonstrar na prática como funciona. Dessa forma, iria se gastar menos tempo com reuniões e cobranças.
O verdadeiro nome de Gandhi foi Mohandas Karamchand Gandhi. O nome Mahatma significa grande alma, e por isso foi atribuído a ele. Não foi com a força que ele conseguiu o respeito e a alcunha. Foi com a coerência entre suas palavras e suas atitudes. Quando se fecha os olhos, e se imagina Gandhi, a imagem que vem a cabeça é daquele homem franzino, com roupas simples, caminhando em um lugar pobre.
Voltarei em outra oportunidade para falar da biografia desse líder que ganhou repercussão mundial com sua luta a favor da paz. Seus ensinamentos podem inspirar muitos gestores. Atribui-se uma frase a ele: “quem sabe concentrar-se numa coisa e insistir nela como único objetivo, obtém a capacidade de fazer qualquer coisa”. Dessa forma, se os gestores se concentrarem em buscar a coerência das palavras com as atitudes, os resultados serão muito mais saudáveis.
Autor: Gerson Christianini