O bajulador de hoje em dia é, ou incompetente, ou impaciente, ou intransigente, ou descrente. Ou tudo isso.
Em latim bajulus significa carregador. Nos portos, esse era o nome dado àquele que transportava as mercadorias do navio aos armazéns, ou dos armazéns aos navios, entortando as costas diante daqueles cargueiros com tamanhos desproporcionais que atracam nos portos. Li um texto uma vez que, no Brasil, no século passado, as mercadorias vinham em sacas, e raiou uma nova acepção para os trabalhadores: o homem que puxava sacos. Ou, o puxa-saco.
O bajulador era um trabalhador. O puxa-saco brasileiro também. Mas hoje esses termos são cunhados para definir outro tipo de pessoa: aquela que elogia demais o superior, aquele que vive de conversinha para cima do chefe. Ou seja: aquele que quer levar vantagem através de um elogio ao invés de colocar a mão na massa.
Realmente não há como impedir a existência desses seres. É uma epidemia difícil de erradicar. Eles influenciam negativamente o clima da empresa, e, em uma entrevista de emprego, por mais que se faça testes e mais testes, não é fácil detectar um puxa-saco. Cabe ao recebedor de tal bajulação contribuir para que o clima entre funcionários não fique ruim, rejeitando essa prática.
A verdade é que o bajulador ou puxa-saco costuma se enquadrar nas seguintes reflexões:
O bajulador é incompetente. Ele não tem capacidade de vencer pelo conhecimento e se vale de palavras elogiosas para galgar outro posto na empresa, ou pelo menos não perder o lugar em que está. Se o bajulador não é incompetente, é um impaciente: significa que ele não tem paciência para construir sua carreira tijolinho por tijolinho, e faz uso de elogios e bajulações frívolas para antecipar as etapas de promoção, criando atalhos nocivos para um ambiente produtivo na empresa. Significa que ele não dá tempo ao tempo, que não sabe esperar a sua vez.
Se o bajulador não é incompetente e nem impaciente, ele é um intransigente: significa que ele não consegue tolerar que outros funcionários possam ser melhores que ele; significa que não consegue admitir que alguém estudou mais, que alguém tem mais experiência, que alguém atingiu maior nível técnico, etc.
Se o bajulador não é incompetente, impaciente e nem intransigente, ele é um descrente: ele não crê nas suas virtudes, não crê nos seus diferenciai e não crê nas suas próprias forças e recursos. Se bajulador vem de carregador, que essa palavra possa inspirar as pessoas a carregar as dificuldades nas costas. Que os bajuladores possam impressionar os chefes pela perseverança e pelo esforço, e não pelas palavras que por fora tem uma embalagem bonita, mas que por dentro são vazias.
Autor: Gerson Christianini