As vagas de estacionamento da empresa podem ser uma forma de demonstrar a prioridade que ela dá ao cliente.
Visitando empresas, procurando serviços ou distraidamente em algum passeio, noto uma prática entre as empresas que repudio: a identificação de vagas nos estacionamentos. Já vi empresas reservarem 4 de 5 vagas para funcionários, ou seja, 80% das vagas para funcionários, e deixarem os clientes com apenas 1 vaga disponível. Eu já li: vaga para diretor, vaga para diretora, vaga para encarregado da manutenção, vaga para chefe disso, daquilo, daquilo outro.
A questão não é entrar no mérito de ter comprado ou alugado o prédio, o terreno, e usar o espaço como bem entender.A empresa tem o direito de desenhar o layout como quiser. Mas será que é viável? Será que passa uma boa impressão para quem quer atender bem os clientes?Não vejo coerência em reservar vagas para funcionários, por alguns motivos. Primeiro: caso seja para que o chefe tenha garantida a vaga sem que ninguém a tome antes de chegar à empresa, isso é um desestímulo para que o chefe daquilo ou daquilo outro chegue mais cedo na empresa, para que dê exemplo aos outros funcionários.
Outro fator nocivo gerado por essa prática é a ideia do favorecimento. As vagas estão lá para serem ocupadas por quem chegar primeiro. Reservar algo para determinadas pessoas não gera a ideia de justiça, de equanimidade. Por que o funcionário que foi mais cedo por ser mais dedicado precisa parar mais longe? O colaborador que chega à empresa e vê essa reserva de vagas pode pensar que o crescimento naquela empresa não será alcançado com a disputa em oportunidades iguais proporcionadas para todos, mas sim que será atingido através de favorecimentos.
O mais importante aspecto de que essa destinação de vagas é perniciosa: a empresa passa nas entrelinhas para o funcionário a impressão de que o cliente não foi o fator mais importante nas escolhas e diretrizes. Será essa a ideia que alguns clientes terão. Se uma empresa tem 5 vagas, e destina 4 delas a funcionários, como faz com os clientes? Eles precisam andar mais, tomar mais chuva?
Missão, Valores, Visão, que descreveremos com mais detalhes em outro artigo, não podem ser escritas com uma tipologia bonita, emolduradas em um quadro bonito e ficar penduradas na parede do diretor, do banheiro, empoeirando diante do esquecimento. É necessário cultivar a missão, os valores e a visão da empresa entre os funcionários. E, não adianta grudar uma frase com caligrafia bonita na parede dizendo que a empresa tem respeito com os clientes, mas que na prática destina a eles 20% das suas vagas.
Já escutei mais de uma vez uma história, que não sei se é verdade, mas que serve para ilustrar esse artigo. Um funcionário que tinha o costume de chegar cedo sempre parava o carro nas vagas mais afastadas da entrada da empresa. Em um belo dia ele foi questionado sobre o motivo de não aproveitar as vagas que estavam próximas do salão principal, evitando, dessa maneira, atravessar todo o estacionamento vazio a pé. Ele respondeu dizendo que alguns funcionários chegariam atrasados e precisariam encontrar vagas mais próximas da entrada. Se os funcionários que por um motivo ou outro chegavam em cima da hora não encontrassem aquelas vagas vazias na frente da recepção, teriam que atravessar todo aquele grande estacionamento a pé, sendo, dessa forma, prejudicados. Uma bela ilustração.
A gestão de uma empresa não é feita só de palavras, de quadros, de discursos empolados sobre Missão, Valores, Visão. A gestão depende de ações coerentes. Caso o colaborador de uma empresa conviva com essa prática, por que não ele cultivar uma prática diferente? Por que não chegar mais cedo e deixar as vagas para clientes e, dessa forma, criar uma corrente positiva dentro da empresa? Por que não rejeitar o “presente” da vaga especial?
Já vi clientes dando a volta várias vezes no quarteirão até que coincidissem de encontrar algum motorista saindo de alguma vaga na rua. Em suma: vagas de estacionamento da empresa também são reflexos da cultura que ela pratica. Também servem para mostrar que valor que a companhia dá aos funcionários, que oportunidades ela cultiva, que importância tem os clientes e quais são as prioridades que ela determina.
Autor: Gerson Christianini