Ignorância não é grosseria; ignorar é desconhecer, e desconhecer não é feio. O problema é quando a admissão da ignorância não existe e a capacidade de fazer perguntas é nula.
Hoje em dia quando alguém qualifica uma pessoa de ignorante quer dizer que o sujeito é bruto, bronco, desajeitado, que não mede as palavras, que tem um palavreado repugnante e um tom de voz acima do normal. Ignorante é aquele, segundo o costume, que briga no trânsito por qualquer motivo, que dá uma resposta descabida aos seus interlocutores e provoca discussões infantis em um ambiente social. Mas, ignorante não tem como origem essa acepção.
Ignorância vem do latim ignorantia e quer dizer aquele que desconhece. E essa ignorância é um problema sério; ela custa caro. A ignorância gera retrabalhos, cria ambientes improdutivos, gera estagnação e corrói o ambiente de trabalho. Algumas empresas quando contratam novos funcionários analisam e se “espantam” com o salário pedido por fulano para exercer determinada atividade, ou reclamam do custo fixo provocado por certa função. Outros ainda deixam de investir em cursos para os funcionários, sejam eles técnicos, acadêmicos, porque vai onerar aqui e ali.
O problema é: quanto custa essa ignorância? Quanto custa manter um funcionário improdutivo em determinado setor, contaminando os que convivem com ele? Quanto custa demitir um funcionário porque a folha salarial é alta e contratar um funcionário sem o know-how que propicia inovações para a empresa? Quanto custa treinar e esperar o novo funcionário crescer e gerar resultados iguais ao outro, considerando ainda que eles vão conseguir gerar esses mesmos resultados? São contas necessárias. Mas não se pode fechar a mente e esquecer de outro fator: não se pode deixar de dar oportunidades para algumas pessoas, desde que no tempo correto e na função correta. Tudo cabe uma análise caso a caso. A ignorância, pasme, pode não chegar a ser um problema. O problema é quando alguém se acomoda na ignorância.
Há muito tempos atrás, mais de 2 mil anos, aliás, passou um homem na terra que ficou conhecido como sábio e que não deixou nenhuma folha escrita, nenhum livro, com suas ideias. Não. Não estou falando de Jesus. Esse mesmo homem é Sócrates, viveu em Atenas e é lembrado pela sua capacidade de fazer perguntas. Apesar de sua aparência feia, segundo relatos da época, ele conquistou grande admiração onde passava. Mesmo sem conhecer determinados assuntos, sua habilidade em fazer perguntas colocava seus interpelados em saia justa.
Sua frase mais conhecida talvez seja: “O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância. Todo o meu saber consistem em saber que nada sei”. Ou seja: dar oportunidade a um novo colaborador, que não saiba determinados trâmites e técnicas é uma prática aceita, desde que não implique em outros problemas. Vai depender da responsabilidade e das prerrogativas em curto prazo de cada função. Algumas atividades requerem experiência e know-how e não podem ser suscetíveis a determinados riscos. O maior problema é quando a admissão da ignorância não existe, e a capacidade de fazer perguntas é nula. Daí a vaca, ou melhor, a empresa, vai para o brejo.
Autor: Gerson Christianini