Quando eu preciso de um livro, eu consigo avaliar muitas informações e entender de forma holística como funcionam os negócios. A compra de um livro não é o ato apenas de clicar, ou de me dirigir ao caixa e digitar a senha do meu cartão. A experiência de compra ajuda a compreender como estão sendo feitos os negócios, de que forma os consumidores estão se comportando, e como a tecnologia vai ganhando terreno diante das atividades prestadas há tempos atrás apenas por humanos.
Qual o sentido de ir a uma livraria? A livraria é o tempo dos livros, onde você encontra os livros que procura, conversa com um (a) atendente que poderá te guiar diante de sua miríade de dúvidas e que será capaz de indicar os livros que são relacionados ao tema que você busca. Além disso, você poderá pegar o livro e manuseá-lo (isso quando não estiver com o plástico), sentir o cheiro do livro, escorregar a mão pela capa e avaliar a textura.
Para conseguir essa compra, você tem o caminho para fazer da sua casa ou apartamento até o estacionamento da livraria (quando há estacionamento), ou então, se enveredar numa aventura pelas ruas da cidade, em busca de estacionamentos que não estejam lotados, já que, as ruas, com seus cartões pré-pagos tradicionais, podem estar arrebatadas de carros.
De volta à livraria, podem ocorrer alguns “problemas” ou decepções: o livro que você quer não está ali, e, com isso, você reflete o tempo que despendeu da sua casa até o estacionamento, sem avaliar ainda quanto tempo demorou até achar uma vaga disponível. Mas você gosta da livraria, por considerá-la, talvez, o templo da sabedoria, um lugar de “rezas intelectuais”, onde há “cânticos verbais, hinos de adoração aos diálogos bem construídos, preces às histórias que mudaram os rumos de algumas sociedades”.
Outrossim: alguns talvez consideram a livraria realmente um templo, pois, ali, há textos e reflexões de alguns seres que possuíram algo especial dentro de si, ou seja, que conseguiram enfrentar regimes e poderes vigentes, para, de forma brilhante, descrevê-los de forma metafórica, desnudando as armaduras dos vilões, expondo suas idiotices e desmascarando suas violências. Os livros encorajam os medrosos, fortalecem os angustiados e mudam para sempre a vida de muitos leitores.
Eis mais uma questão: só que para chegar até essas histórias, as livrarias físicas estão enfrentando concorrentes de peso. Eu não preciso mais ir à livraria para comprar os livros. Eles estão disponíveis na internet. E, mais do que isso, o risco de o livro não estar disponível é menor do que em uma livra. Digo isso por experiência própria. Já fui comprar livro na livraria física e não encontrei. Fui procurar na internet e lá estava ele, disponível e pedindo para ser comprado, em diversos sites.
Só que os problemas não acabaram. As livrarias online estão com preços bons. Muitos bons. Descontos de 10,%, 30%, 50%, 70%, em algumas livrarias específicas. Se não bastassem esses números tentadores, ao clicar em um livro, automaticamente ele já indica livros que podem nos interessar, livros do mesmo autor e livros que os consumidores costumar levar junto quando compram o livro X que se procura. Ou seja: será que os atendentes das livrarias que visitamos estão com essa capacidade, de, ao serem perguntados sobre um livro, descreverem a história dele e indicasse livros em comuns, com histórias e crítica semelhantes, outros títulos do mesmo autor ou até mesmo fazer a combinação de que, ao levar livro X, é interessante levar o livro Y, porque a prática é muito feita na loja por motivos diversos.
Ou seja: os negócios mudaram. Por mais que exista o frete, há loja na internet que, dependendo do valor gasto, e não é alto, já lhe oferece o frete grátis. Ainda mais: essa mesma livraria oferece a oportunidade de “folhear” o livro, ao permitir que você “dê uma olhada nas primeiras páginas” através de um recurso no site deles. Quer mais: o frete, que era para ser um empecilho, não é mais, porque surpreende ao criar um sistema de entrega que dura tão poucos dias que poderiam ser contabilizados em: “será entregue em X horas”.
Em suma: os negócios mudaram. O hábito de leitura não (ufa, ainda bem). Não vou entrar na seara dos livros digitais. Abordarei esse assunto no próximo artigo. O que eu gostaria de enfatizar é que, se as livrarias quiserem continuar como sendo imprescindíveis, elas precisam de gestores imprescindíveis, atendentes imprescindíveis, e um acervo imprescindível. Essas livrarias precisam de locais fantásticos, porque bons locais dificilmente fará diferença na vida dos que compram livros.
Não será apenas um café em cima de uma mesa bonita de madeira que vai ajudar as livrarias a alavancar leitores. É necessária outra forma de entender o negócio e fazer da livraria um ponto de peregrinação, com seus milagres e seus labirintos de novos descobrimentos. É preciso entender que há muitos fatores que levam o consumidor a escolher um livro, e muitos aspectos que ajudam o leitor a comprar mais de um livro. E que as livrarias repensem sua forma de atender e de fazer negócio o quanto antes, porque elas são bonitas, são charmosas e algumas são muito aconchegantes. Já as livrarias virtuais, pelo menos as que eu experimentei, provaram que são eficientes ao fazer recomendações online, são surpreendentes ao entregarem o produto em tão pouco tempo, e são inovadoras ao oferecerem a possibilidade de folhear o livro pelo celular. Sobre os livros digitais, outra grande inovação falarei no próximo artigo.
Autor: Gerson Christianini