Quando há a contratação de um funcionário, há uma dinâmica que sempre ocorre, com características diferentes em cada companhia, mas com uma similaridade que não se prescinde: é necessário ter um perfil. E, de acordo com a importância do cargo, com a responsabilidade na tomada de decisão, na condução de tarefas, na visão de futuro, a experiência é um fator predominante na escolha do candidato. Experiência, portanto, não é um item a ser negociado.
Eis um tema controverso, que agrega vários pareceres. As faculdades estão cada vez mais preparadas para oferecer cursos de qualidade. Professores notáveis, estrutura adequada, conteúdo aplicadona prática. Prova disso são os cursos de MBA, que são em formato de especialização, mas aplicados para desenvolver habilidades e competências necessárias para carreiras de gestão.
As empresas estão de olho nisso, e patrocinam seus funcionários com critérios que variam como: tempo de casa, cargo ocupado, afinidade com a área exercida, além, é claro, de a empresa ter um projeto para um colaborador específico, a fim de que ele possa permanecer mais tempo, agregando valor à empresa, progredindo na área de atuação e trazendo o que há de mais novo em técnicas e ferramentas de acordo com a posição ocupada.
“É bem diferente falar sobre touros e estar dentro da arena.”
A Harvard Business Review publicou em Dezembro uma boa matéria sobre a validade de se fazer um MBA. Além de abordar o crescimento da oferta dos cursos, das qualidades desenvolvidas, a escolha dos cursos e a remuneração envolvida, citou a opinião de Armando Dal Colleto, professor da Anamba, sobre o que um curso de MBA deve oferecer. Colleto diz que o curso precisa oferecer conhecimento das várias áreas dentro das empresas, fornecer um olhar abrangente da sociedade, através do viés econômico, da responsabilidade social, da sustentabilidade e do papel das empresas, além de permitir que os alunos saiam com ferramentas e conhecimentos em temas como marketing, recursos humanos e estratégia.
Diante disso, quando citamos no primeiro parágrafo sobre a dinâmica de uma contratação que busca requisitos como experiência, por que não ligar para a universidade, faculdade em questão, e pedir que anunciem uma vaga nas dependências do prédio? Eis por que penso que a questão é controversa. Inadmissível dizer que só funcionários experientes podem tomar boas decisões. As faculdades têm excelentes currículos e os cursos de gestão oferecem um networking que possibilita uma rica troca de experiência em casos específicos e reais, contribuindo para que os alunos tenham uma visão mais abrangente e acurada dos problemas e, dessa forma, consigam resolvê-los.
O que esse artigo vem dizer é que a experiência vale muito. E o estudo também vale muito. Ambos são patrimônios a serem considerados, ativos a serem respeitados, que servem para que as empresas saibam conduzir a embarcação no meio da tempestade. Porém, na área de vendas eu gostaria de fazer uma bservação. Li um provérbio espanhol que dizia: “É bem diferente falar sobre touros e estar dentro da arena”. Para quem vive a área de vendas, sabe muito bem que o estudo é importante, mas a experiência na área de vendas, quando se trata de ofertar alguns produtos em específico para um público diferenciado, a experiência sim é o encaixe perfeito. Em algumas situações não é permitido arriscar. Nenhum piloto sai da pista de Kart e já assume como primeiro piloto de uma equipe de ponta na fórmula 1. Existem apostas, mas em situações específicas. A experiência tem sim seu valor. E é alto.
Imagine a cena: você tem um parente que demanda muitos cuidados de saúde. Você viaja sempre e não tem como acompanhar todos os tratamentos que ele precisa fazer. Você já se sente culpado por isso, já que ele te ajudou em algum momento importante da sua vida. Portanto, você contrata um motorista, que há 3 meses atrás ficou apto a dirigir para levar seu parente querido de uma cidade no interior até a capital, num trajeto por 3 horas de pistas sinuosas, serras e trânsito intenso. Em suma, a experiência tem o seu papel, mantém um lugar só dela, e possui um valor (in)estimável.
Escrevo assim porque é possível uma tentativa de estimar. Esse mesmo motorista, com apenas 3 meses de experiência, está atrasado porque ficou num trânsito lento por 1 hora seguida. Ele vem acompanhando um comboio de carretas, e surge uma faixa que indica que ali ele pode ultrapassar. Ele está dirigindo a 100 km por hora. Não é muito. Mas do outro lado vem no sentido contrário uma carreta, que ele não consegue estimar. Será que é possível ultrapassar? Ele não tem como descer do carro e mensurar quantos metros ele tem que percorrer na pista contrária. Ele tira o carro. E se o carro bater? O valor é estimável, com seus prejuízos materiais. E se ele perder a vida de seu parente. É um valor estimável? E se houver sequelas, e seu parente não puder se movimentar mais por vários anos? É possível estimar esse tempo de paralisia? Existem sim muitos valores envolvidos. Valores precificados, e valores sem precificação.
Experiência profissional é um acúmulo de atividades positivas e também negativas, que contribui para que se chegue a uma visão a fim de reduzir as atividades negativas novamente.
A ultrapassagem de um carro é apenas um exemplo. Em muitas situações, o olhar de quem já viveu uma situação anterior é importante; o funcionário que passou por várias áreas dentro da empresa é importante; a experiência de quem estudou fora do Brasil é importante. Portanto, experiência não significa cabelos brancos. Mas, experiências em estudos, em atividades acadêmicas, em pesquisas, em trabalhos diversos, é o que podemos chamar de experiência. Não apenas o tempo que se viveu, estudou ou trabalhou, mas sim, como trabalhou, onde e como estudou, de que forma viveu e contribuiu. Experiência profissional é um acúmulo de atividades positivas e também negativas, que contribui para que se chegue a uma visão a fim de reduzir as atividades negativas novamente.
Autor: Gerson Christianini