Pipoca azul, pipoca vermelha, pipoca branca. Pipoca, pipoca do pipoqueiro. Pipoca do Sr Carlos. A posição é estratégica. Ao fundo escuto crianças brincando. Um balanço que vai e volta e que arranca risos das crianças que brincam. O cheiro parece uma folha, que vai sendo levado pelo vento até as narinas dos transeuntes.
E, diante dos cinco sentidos, percebe-se o olfato sendo persuadido pelas ações do Sr Carlos. Mas é uma boa persuasão. Até para quem não está acostumado, emerge-se a vontade de comer pipoca.
Será que o Sr Carlos faz uso do Marketing? O Marketing não é apenas texto. O Marketing passa correndo, grita, murmura. Às vezes se materializa, vira doce, ou azeda. Às vezes o Marketing tem texturas e pode ser surpreendido pela luz, ou pesado com a balança. O Marketing não tem uma face só. Ele proíbe, outorga, vira, espelha, adverte, mas aconselha. Pode ser chato ou fazer sorrir, mas o que importa não é só a forma, mas a sua efetividade.
O Marketing do Sr Carlos tem cor; observa-se suas pipocas e note que o colorido é cool, é bacana. Chama atenção. O Marketing do Sr Carlos tem cheiro. Mais que isso: O marketing do Sr Carlos tem local. Às vezes o profissional pega um diploma, manda colocar a moldura mais cara, pendura na entrada da sala, mas ao planejar um investimento, não leva em conta se o local atende aos requisitos logísticos e se o custo do molho vai ser mais caro que o peixe.
Falei em molho de propósito. Conversa vai, conversa vem, o Sr Carlos comenta da clientela, da vida. E revela um pequeno segredo: “o pessoal vem aqui por causa do molho. Meu molho é diferenciado; às vezes, se não tem molho, tem gente que nem compra”, conta.
A tarde se finda. Os carros se aglomeram aguardando o verde do semáforo. Percebe-se nos olhos a expectativa de chegar logo ao destino. O local é São Manuel, e a Kombi do Sr Carlos está ali estacionada. A praça está repleta de gente. Uns se alongam, outros caminham, outros brincam, e outros comem pipoca.
Vendo toda aquela movimentação, lembrei-me de Maria Rita cantando “Encontros e Despedidas”. A letra diz: “Tem gente que chega pra ficar; tem gente que vai pra nunca mais; tem gente que vem e quer voltar; tem gente que vai e quer ficar; tem gente que veio só olhar; tem gente a sorrir e a chorar”. Atender clientes é recitar esses versos. É entender que há encontros, e há despedidas.
Nos balcões, nos caixas, no digitar da senha, há clientes pra toda vida, mas há clientes de passagem. Há compras de perto e compras de longe. Cabe ao Marketing proporcionar o melhor encontro e fazer a melhor despedida. O Marketing carrega uma aura, como se morasse num palácio, como se usasse vestes reais e adornos preciosos.
O Marketing não está apenas no papel. Um dia ele virou teoria, levou bibliografia, recebeu uma assinatura e se fez presente na sala de aula. Mas antes disso tudo, ele era ideia. E, sua formação não se deu no imaginário. O Marketing não é produto de ficção. Ele nasceu na rua, no aperto de mão, e na promessa de cada transação.
Termino esse artigo eloquentemente afirmando que o Marketing passeia por todos os bairros. Ele não está apenas na assinatura de um CEO de uma grande empresa. O Marketing está pulsando, andando, metamorfoseando. Ele está nos encontros glamorosos e nas mais simples roda de amigos. Ele não tem endereço fixo. O Marketing não se assina apenas com Mont Blanc. Às vezes ele está numa gaveta, no vigésimo andar; ou num saco de pão, improvisado num balcão.
Autor: Gerson Christianini