Quando se falava em Marketing, abordava-se muito em 4Ps (Produto, Preço, Promoção e Praça). Até hoje, alguns profissionais não renovaram a biblioteca, e quando vão tratar de Gestão de Produtos, esgotam todo o conhecimento de Marketing e sua complexidade em apenas 4 etapas: lançar um produto, precificar esse produto e fazer a promoção dele para uma determinada praça.
Impossível abordar sobre todas as mudanças de Marketing nesse arquivo. Marketing não é uma camisa, que se dobra e coloca numa gaveta coincidente com o tamanho. O Marketing se atualiza, se move, é dinâmico. Nessas poucas linhas vamos falar de Cocriação, que, na gestão de produtos, é o que há de atual. No título, fica clara a brincadeira. O consumidor final, o cliente interno, a engenharia, não podem falar idiomas distintos, e o produto não é um “achado”. O produto e a necessidade precisam se conversar. A empresa e o consumidor precisam ser cúmplices.
Cocriação foi um termo criado por C.K. Prahalad para nomear a abordagem de inovação. O processo de origem e lançamento de um produto não é uma ideia estanque e não se conclui no lançamento ao mercado. O processo precisa ser horizontal. Há 3 processos horizontais de Cocriação: criar uma base, ou plataforma, para que esse produto possa ser moldado ou lapidado mais pra frente. Em seguida, propiciar a interação dos consumidores para que eles ‘trabalhem’ e personalizem o produto de acordo com a necessidade deles. Finalmente, cobrar o feedback do cliente, e usar esse retorno para criar uma experiência de marca indelével nos consumidores.
Essa linha de pensamento, atribuída ao conceito de Marketing 3.0, e muito utilizada pelas grandes companhias, com planejamento bem feito, investimentos vultosos e pilhas de pesquisas amparando a tomada de decisão, não deve ser encarada como algo fora da realidade das empresas menores. Cocriação deve ser visto com menos medo e mais curiosidade. Empresas pequenas, na área de serviços, podem se valer de pesquisas com seus clientes para identificar os hábitos de consumo e a experiência com o serviço prestado.
Simplificando e muito o conceito, para que ele seja visto como real e não uma ideia “digna” de grandes companhias, vamos fazer perguntas? Se você vai abrir uma loja de roupas, em determinado bairro, qual o público ali? É perto de faculdade, e frequentado por muitos jovens? Se sim, o que essa faculdade oferece? Ela é forte em Direto, Economia, em que os alunos geralmente têm um jeito de se vestir mais sóbrio, ou os alunos ali são bem despojados? O que esses alunos gostariam de encontrar na loja? Por quem gostariam de ser atendidos? Quais acessórios seriam interessantes para eles? Eles gostam de lojas com muitas cores? Eles preferem um visual que remete às artes? Alguém ali desenha bem, desenham pinturas, fazem grafites? Um concurso sobre qual desenho seria colocado na fachada mobilizaria os consumidores? No interior vai ter quadros, pinturas, artesanato, cerâmica? Alguém ali sabe fazer algo do gênero? Eles aceitariam uma premiação de acordo com o projeto escolhido? Têm curso de design na faculdade? Eles se interessariam para montar o layout, e inserir no currículo que, já na faculdade, criaram um projeto diferente, inovador? A faculdade tem curso de Marketing, de Publicidade? Que tal uma rede de alunos para contribuir e formatar a logomarca, a identidade visual, as primeiras postagens no Facebook, gerando difusão em massa? Eles aceitariam premiação? O layout da loja precisa gerar qual experiência? Depois de a loja estar em funcionamento, o que os clientes sentem ao adentrar a loja? Quanto tempo eles ficam? Que tal uma pesquisa depois de 3 meses para sentir o feedback dos alunso e criar uma experiência que vá de acordo com a expectativa deles?
Enfim, Cocriação é uma forma de dar ao consumidor o poder de decidir, para que ele se engaje no seu projeto, e, de forma espontânea, crie valor para a sua marca, ser serviço, seu produto. Departamento de criação, colaboradores e consumidores finais precisam ser peças de um mesmo quebra-cabeça, para que os resultados sejam fortes duradouros e sustentáveis.
Autor: Gerson Christianini