O uso de ditados e expressões populares em um ambiente profissional pode ser prejudicial à sua carreira; use-os com moderação.
Eis um vício que poucos se preocupam, que não causa danos e nem sequelas ao cérebro, mas que prejudica e muito a ascensão profissional: o uso de gírias e ditados populares ao extremo. Digo ao extremo porque é quase impossível em uma conversa informal ou formal deixar de usar algum jargão em evidência. Às vezes usamos com parcimônia e polidez, mas, mesmo assim usamos. É automático, que nem aquelas músicas com um refrão pegajoso, que rima, é engraçado e não sai da boca do povo.
A questão não é deixar de usar. Sempre haverá uma expressão popular que gostaremos e, por isso, seremos mais tentados a incorporar em nossas explicações diárias. Não condeno o uso, pois isso pode facilitar o processo de comunicação. Em uma situação de negociação, o uso de um jargão quebra o gelo, cria empatia com o interlocutor, facilita o entendimento do tema e pode trazer uma ilustração pertinente ao assunto. Quem nunca ouviu: “custo é que nem unha (ou cabelo), e precisa cortar sempre”? Essa expressão pode ser usada para ilustrar uma explicação de um vendedor que oferece um produto para reduzir custos, ou para um gestor explicar aos seus subordinados sobre o corte de custos em determinados departamentos.
Existem expressões usadas corriqueiramente pelas pessoas que vivem no meio de negócios. Mais do que demonizar o uso desses jargões, é preciso entendê-los. Desde que não sejam vulgares, e fora de contexto, podem sim ser usados. Não fará mal algum, e pode, no final das contas, contribuir em algo para a conversa. Expressamente proibidos são os ditados pejorativos, piadas de mau gosto, expressões de cunho racista.
Algumas expressões são mais corriqueiras em negociações de vendas:
• Seguro morreu de velho
• Remar contra a maré
• Uma andorinha só não faz verão
• Osso duro de roer
• Um dia da caça e outro do caçador
• Olhos de lince
Os exemplos acima, desde que usados com moderação, não são nocivos à vida profissional. Dependem do ambiente e do público. A preocupação deve ser em relação a “onde” usar e “como” usar. Em negociações, saber observar e se situar entre os perfis de clientes são fundamentais para não passar vergonha. Outra dica: preste atenção na linguagem do seu interlocutor. Veja o que ele gosta e como ele usa a linguagem: se for pra usar um ditado, que seja do perfil e do contexto em que seu interlocutor esteja inserido.
Os jargões, expressões populares e ditados são fruto de um povo, muitas vezes nasceram de uma brincadeira, mas não deixam de ser parte da cultura local. O uso pode provocar reações de riso ou de indiferença, mas, pela popularidade, são facilmente entendidos e digeridos. São criados por pessoas, e, portanto, não se pode satanizar os seus usos. Desde que seja com parcimônia, a vida profissional não tende a ser afetada.
A vida não é sistemática, programada. Nossa rotina não obedece a uma lógica matemática. Pegamos ruas diferentes, ouvimos sons diferentes, conhecemos sotaques diferentes, e a vida profissional é apenas um pedaço disso tudo. Não se pode colocar a carreira profissional em uma caixinha, robotizar os próprios comportamentos e criar uma imagem de um profissional beatificado, sem um jargão em sua linguagem. O jargão é a própria linguagem, em suas diferentes cores e tonalidades. A linguagem, e, portanto, as suas expressões, são os instrumentos para construir uma carreira profissional melhor e uma vida mais justa.
Autor: Gerson Christianini