Marketing é o oposto do acaso

Às vezes ouço falar que nem sempre o Marketing funciona. Ou que o Marketing não é importante. Diversas vezes me deparo com uma reclamação de que em uma empresa a verba de Marketing não é suficiente para ensejar as ações necessárias. Ou seja: algumas empresas ou empresários ainda estimam as vendas em bola de cristal e nada fazem para viabilizar seus processos de vendas.

Marketing é o campo de administração que cuida das vendas, é um processo que visa tornar público o posicionamento da empresa, fortalecendo o relacionamento com os clientes, através da identificação e mensuração de seus comportamentos e hábitos. A frase que escutei muito é: o Marketing cria necessidades. Não está errado, mas ele faz muito mais que isso.

O fato é que muitos ainda não enxergam o Marketing com a dimensão que ele realmente tem e, com isso, não o valorizam como deveriam. A nossa vida está cercada dele, o Marketing. Ele está entre nós. É onipresente devido à sua predisposição e vontade de buscar a onisciência. É só fazer uma reflexão acerca da política que veremos o quanto somos motivados e influenciados pelo Marketing.  Na última eleição vimos vários candidatos se digladiando em torno de um único objetivo: conquistar o voto do eleitor. Ao se digladiarem, a armadura e a espada usadas foram as técnicas de Marketing.

As roupas escolhidas, as frases usadas, a maquiagem, os movimentos gestuais. Uma das tarefas do Marketing é essa: fazer com que o resultado seja o mais previsível possível. Marketing não trabalha com hipóteses como sorte nem milagre. O marketing não é (apenas) um processo criativo. O Marketing é uma ciência que estuda causa e efeitos. Para tudo é necessário criatividade, mas até a criatividade pode ser trabalhada com o intuito de produzir mais efeitos. O Marketing faz com que a coincidência seja arquitetada.

Em época de eleição eu costumo conversar com as pessoas. Sempre são vários candidatos, e pergunto a elas o que as levam a escolha A em vez de B. Diante de algumas respostas, vejo que as razões apresentadas, se encaixariam muito bem em um voto no candidato rival. Às vezes a segunda opção de voto é totalmente oposta a primeira, mas as pessoas continuam defendendo vorazmente as suas posições, insistindo que aquela escolha é realmente racional. Será?

Dentre as conversas, uma vez ou outra eu indago sobre o Programa de Governo. Peço que me mostrem as propostas de cada um, e as opiniões do candidato escolhido em temas diversos como meio ambiente, economia, tecnologia, entre outras. Diante de alguns gaguejos e limpadas de garganta, entre argumentos desconexos e frases descompassadas, percebo que o voto é, talvez, numa ideologia. Mas, ideologia essa empoeirada ou reconfigurada.

Falo empoeirada porque a ideia base já não é a mesma. Com o passar dos anos, a ideologia inicial deu musculatura a uns pontos e fez com que outros definhassem. Reconfigurada porque não tem como ser levada ao pé da letra. E, diante das já difíceis respostas, começo a perceber como a simpatia do candidato foi levada em conta. Percebo que o programa de TV, com as imagens minuciosamente selecionadas, criaram no eleitor uma imagem mental de que o candidato A é mais a favor do tema X do que o candidato B. Quando, na verdade, ao se olhar o programa de governo, é possível que seja o contrário.

Ou seja: as nossas escolhas não são por acaso. O produto na gôndola do supermercado, passando pelo tênis que colocamos ou o candidato que escolhemos, não sabemos, ou não relevamos, mas somos nitidamente influenciados. E o Marketing trabalha justamente as informações que tem de nós para criar algo que nos agrade. E o Marketing não é o vilão. O Marketing é o processo criado para nos vender algo. Resta ao consumidor ser atento e buscar racionalizar suas compras e refletir sobre as suas escolhas, pois, quem muito fala que não faz Marketing, pode, na verdade, estar o fazendo justamente com a própria negação.

Autor: Gerson Christianini