Wendell Lira é o nome dele. Um rapaz aparentemente simples, de origem goiana, e que até hoje à tarde o mundo não havia escutado falar dele. Mas lá estava o rapaz, diante de Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar. Diante de jogadores que como ele mesmo disse, só contemplava ao jogar videogame. O gol dele foi um feito histórico. Prova disso que desbancou até o gol do maior do mundo, Messi, que mais uma vez abocanhou o prêmio.
O que eu ressalto dessa história não é apenas a capacidade do futebol de mexer com vidas, de agregar valores, de insuflar a economia e de enternecer corações. Destaco aqui a coragem do menino de fazer um discurso primoroso. Sim, primoroso. Independente da fé de cada um, a história de Davi e Golias não é contada apenas nos templos religiosos. A história de Davi e Golias é uma história de superação universal. O atacante chegou a trabalhar na lanchonete da mãe, e atuou por clubes sem expressão, sendo que, em um deles, escreveu seu nome para o mundo. Disse: “aqui estou eu”. A escolha dele foi uma “provocação”. Uma provocação boa. Uma provocação aos grupinhos fechados, Às sociedades enclausuradas, aos tapinhas no ombro.
O futebol é um esporte democrático. O negro tabela com o branco; o brasileiro cobra escanteio para o argentino; o lateral sem expressão, que acabou de sair da base com o menor salário do clube, comemora junto com a estrela que fatura milhões em comerciais. Na arquibancada, vendo toda essa diversidade, senta a criança com o velho; o amigo com o desconhecido. Enfim, essa é a beleza da vida: o respeito com as diferenças.
Voltando ao meu destaque: o rapaz sobe na tribuna, olha para as TVs do mundo inteiro e não titubeia. Desembainha a espada e estufa a rede: “olha aqui, eu sou pequeno, ninguém me conhecia, mas me respeitem; eu tenho meu valor”, foi como se ele dissesse. Mais ainda: “olha aqui meu amigos, o gol não foi por acaso; eu tenho fé, provei que tenho valor e minha determinação desbancou os gigantes”.
Sem querer querendo, ele deixou um recado: vocês podem. Nós podemos. Parece algo simples. Afinal não se espera que ele dispute o prêmio de melhor do mundo no próximo ano. Mas o feito dele foi notável. O gol foi notável. Mas ele estufou a rede mais uma vez. E foi com a comunicação. Ele não deixou uma frase. Uma frase todo mundo esquece. Já comprei livros de frases, e não lembro nem metade delas. Mas, dos livros que tive o grande prazer de ler, eu guardei na memória as histórias, as paixões, os egos, os valores e os ensinamentos.
Wendell provou que um gol faz história. E provou também que um discurso também faz. Uma história bem contada tem o poder de mudar as pessoas, de criar estímulos e de promover o crescimento. Se as histórias contadas podem mudar as pessoas e as pessoas mudam o mundo, chegamos à conclusão que as histórias mudam o mundo. Pois bem, que histórias você está contando?
Autor: Gerson Christianini