Jogo de vendas

Já fiz vários textos para esse blog, mas em nenhum deles me dediquei a uma analogia tão óbvia da nossa cultura. O brasileiro é um apaixonado por futebol. Sexta-feira, depois de um evento estupendo e digno de elogios, tivemos a oportunidade de ver o maior evento de esportes do mundo. Vários modalidades, feras do mundo inteiro, se digladiando com o objetivo de levar o máximo de medalhas para casa.

O esporte é fantástico porque permite resultados impensáveis, com zebras e viradas espetaculares. O esporte é democrático, e, para observar isso, note-se os grandes times da Europa. O chinês toca a bola para um brasileiro, que cruza para um africano fazer um gol. Eles são brancos, negros. Eles se abraçam, se cumprimentam (salvo repulsivas e racistas exceções) e comemoram as vitórias juntos.

Não há desculpas. Se o time não faz gol, todos vão ser cobrados, mas a principal troca que o técnico vai fazer será no ataque. Seja um vendedor goleador, ou vá jogar na zaga.

Se o esporte é maravilhoso, o futebol é a cereja do bolo. Não estou entrando no mérito da emoção de cada um, mas apenas respeitando uma modalidade muito vista e celebrada em todo mundo. Não se diz que por causa do futebol (Pelé estava em campo, diga-se de passagem), parou-se uma guerra? Pois é. O futebol é bacana por vários motivos, mas eu quero voltar à analogia com as vendas.

No time nós temos uma equipe inteira que é responsável pelos resultados. E não falo apenas dos zagueiros, dos laterais, volantes, meias e atacantes. Tem o preparador físico, o massagista, o roupeiro. E óbvio, o técnico que comanda ou tenta pelo menos impor um padrão tático para que os jogadores saibam tomar conta dos espaços corretos do campo.

E onde entram as vendas? Também há um time de vendas. Há os que são zagueiros, que não servem para conversar com os clientes, porque qualquer coisa jogam a bola pra arquibancada. Há os volantes que protegem esses zagueiros. Há os meias, que criam condições para as vendas, e eu diria que, de acordo com essa analogia, são as estratégias de marketing postas em prática através de ações bem orquestradas. E, finalmente, há o goleador.

Se o time empata, a zaga pode ser elogiada porque marcou bem os atacantes; os laterais porque voltaram e ajudaram o time a marcar; os volantes serão elogiados porque protegeram a zaga. Mas e o gol? Ah meu amigo: o gol é pra vendedor. E é aí que mora o coração do time. Tudo é importante? Sim. Mas só ganha quem faz gol. E a responsabilidade é do atacante.

Por mais que a gestão moderna tente dividir e redefinir responsabilidades para que o gol seja fruto de um trabalho tático bem definido (e eu respeito e concordo com isso), é o atacante que é cobrado para ter habilidade, ter um drible diferenciado e definições certeiras.

Você, que está lendo esse artigo e trabalha na linha de frente, saiba que se você não sabe lidar com a pressão, mude de posição no jogo, porque o vendedor tem que fazer gol. E, vou além: fazer gol bonito. Essa história de gol de canela não vai levar ele a seleção e nem a galgar lugares em grandes times. O vendedor, bem como o jogador, não tem toda a oportunidade do mundo. No jogo, às vezes é só uma bola, meio espremida, que chega para uma definição. Não há desculpas. Se o time não faz gol, todos vão ser cobrados, mas a principal troca que o técnico vai fazer será no ataque. Seja um vendedor goleador, ou vá jogar na zaga.

Autor: Gerson Christianini