Um vendedor de laranja

À bordo de uma F-1000 de ano 74 ele está no aguardo dos clientes. São mais de 6 horas da tarde. O barulho de motor e da buzina dos carros atrapalha um pouco a conversa. Não é uma rua; é uma avenida. A Avenida Presidente Vargas é uma das principais de Garça, no interior de São Paulo e nela muitos entram e saem da cidade. Logo na entrada, à direita, ali está o vendedor de laranja, abacaxi e melancia. No caminhão avisto um balde. No chão outro balde. Sim, não há balanças, nem contagem de peso. Os baldes são a mensuração de quanto se leva ou não.

Chego pra ele e pergunto se ele já estava de saída, afinal, parecia estar arrumando o caminhão para partir. Disse que estava pensando em ir embora. Perguntei do movimento naquela época. “Olha, perto do vale e do salário o movimento é melhor”, responde ele. Ajusto minha câmera no pescoço, pego minha caneta que quase caía no chão, e abro o caderno para começar a anotar os detalhes. Enquanto converso chegam duas crianças.

“Dá uma laranja”, pediu uma delas. Ele vai até o caminhão e pega 3 laranjas. Uma pra cada um. É que do outro lado da rua, com uma pipa na mão, estava mais uma criança à espera. O sol ainda clareia bem. O horário de verão, tão amado e odiado, ainda se faz sentir no rosto. Vou escutando a história enquanto faço algumas anotações. Estou em pé, caderno sem apoio, e as letras saem horríveis.

Pai de 3 filhos, sendo dois homens e uma mulher. “Já puxei cana”, relembra ele. As laranjas ele pega em uma cidade próxima. Já viajou muito na vida. Morando e trabalhando, já conheceu outras cidades. Já morou em Marília, cidade a apenas 30 quilômetros de Garça, mas já morou no Paraná também.

Tiro algumas fotos, registro o momento. Não foi possível registrar o barulho da avenida. Minha intenção não é escrutinar a vida dos entrevistados, e por isso, depois de apenas 10 ou 15 minutos, já vou saindo. Já tenho a foto em uma câmera, o caderno em uma mão, e uma lembrança na memória. Sim, as lembranças são as melhores.

Conhecer as pessoas, a vida, ainda é uma das formas de aprender. E vou escrevendo, registrando, documentando, contando, vivendo. Às vezes vou começar pelo nome. Às vezes nem o nome falo. Às vezes tiro várias fotos. Às vezes só uma. Uma vez foi dito:  “Aqueles que passam por nós, não vão sós; deixam um pouco de si e levam um pouco de nós”. A frase é de Antoine de Sant – Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe, livro que ainda enternece corações em torno do mundo.

O próprio nome do Blog diz: Somos Todos Vendedores. Todos nós, somos todos, nós somos, todos vendedores, humanos. Carregamos, às vezes, bagagem, mochila, carteira. Mas carregamos um sonho e levamos adiante uma história. Os registros são feitos de várias formas. E nas avenidas da vida vamos “caminhando e cantando, porque quem sabe faz a hora e não espera acontecer”, como já dizia Geraldo Vandré.

Autor: Gerson Christianini